sábado, 16 de outubro de 2010

Láfora

O céu chorava e gritava naquela noite. O vento que cortava a cidade, uivava como um cão em um beco escuro. Estava frio. Um frio cortante, a ponto de trincar as viceras, eriçar os pelos, congelar a alma. Nestes momentos o que podemos fazer se não fecharmos os nossos olhos, e se prepara até que o anjo negro, chegue até nós, para carregar os espiritos, tremulos.
Sem ainda nos acustumarmos com a novidade de que estaremos em outro plano, um plano em que não existirá o certo e o errado, o isso ou o aquilo, o encima ou embaixo, neste novo plano em que ficaremos aprisionados até que cheguem novas almas, para que essas nos substituam, e assim, mais ou menos assim, girar mais uma vez a enorme engrenagem que chamaremos de "vida".
Nessa noite não fui visitado pelo anjo. Fui castigado a passar frio por mais um dia, talvez alguns dias, neste lugar, da noite passada para agora, o vento se acalmou, o céu aquietou-se, porém, os espiritos da noite passada, giram a engrenagem, as sombras de vidas passadas, passam á minha frente, me derrubam, tentam me deter, mas quando veem, não conseguem, apenas me encomodam.
Estou fadado à não morrer e continuar a tremular de frio, e a enfrentar as sombras do passado nessa cidade? 

3 comentários:

  1. Ai que terror, adoro os termos que vc utiliza, suas metáforas fantásticas, seus medos e desencantos. Perfeito o texto, viu!? Muito bom, mesmo.

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  2. Como disse o Carlão, "seus medos e desencantos", muito boom!

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